quarta-feira, 14 de março de 2012

Análise de Franchising: MyCenter

Franchising de origem espanhola a actuar em Portugal, a MyCenter possui um modelo de negócio onde o cliente final recebe um serviço gratuito, sendo os fornecedores responsáveis pela remuneração do negócio.

Como?

A empresa dedica-se a apresentar soluções de poupança em diversos sectores, tais como: energia, internet, telecomunicações, seguros ou viagens. A MyCenter tem parcerias com fornecedores destes serviços, que então pagam uma comissão ao franchisado que efectue a venda.


O cliente final, portanto, é aconselhado gratuitamente por um "guia de poupança", que é o termo cunhado pela marca para referir-se ao colaborador que presta o serviço de aconselhamento.

O conceito parece excelente à primeira vista. No actual ambiente de crise, contar com um "guia de poupança" que oferece os seus serviços gratuitamente é algo extremamente interessante não apenas para particulares e como também para empresas nos mais diversos sectores.

Assim sendo, por que o conceito ainda não é um sucesso?

Em entrevista ao site tormo.pt, a directora comercial da marca revelava, ainda em 2011, que pretendia abrir 250 estabelecimentos nos próximos 4 ou 5 anos, sendo 25 estabelecimentos ainda em 2011. Atingir este objectivo implicaria abrir um estabelecimento a cada duas semanas ao longo do ano. Em Portugal houve muito poucos franchisings que conseguiram isso.

Seria extremamente complicado a qualquer marca em Portugal conseguir 250 franchisados em 5 anos. Segundo o último Directório de Oportunidades de Franchising, publicado pelo IIF em 2011, há apenas duas marcas (Optivisão e 5 à Sec) com mais de 250 estabelecimentos em Portugal. E estas marcas operam no país há mais de dez anos.

A análise destes dados deixa claro que a marca não realizou um adequado planeamento e trabalho de campo ao entrar no país.

O facto é que até agora, Março de 2012, a empresa abriu apenas 4 lojas ( Setúbal, Leiria, Póvoa do Varzim e Torres Vedras). Há "centrais" em Lisboa e Évora.

Ainda que o conceito seja bastante apelativo, falta investimento na comunicação da marca aos clientes finais. Mesmo o site da empresa  enfatiza a comunicação a potenciais franchisados e não aos consumidores finais.

Foram cometidos alguns erros de marketing bastante básicos com a entrada da marca no país:
  • Não houve uma adequada campanha de publicidade. A marca não tem notoriedade. Não adianta ter um bom produto ou serviço se ninguém o conhece;
  • O site é pouco apelativo e não traz muito valor acrescentado. Mesmo para descobrir onde estão as lojas de MyCenter portuguesas é necessário clicar num link e depois ter que utilizar a barra lateral para conseguir chegar às moradas. E em quase todas as páginas surge uma imagem de um homem com a mão no queixo - que é muito pouco atractiva - a convidar para ser franchisado da marca. A imagem é a seguinte:
Para completar a cena, mais abaixo surge a frase:
"Envie-nos já o seu formulário de adesão e não perca tempo! Este emprego espera por si!"
No site a palavra "emprego" não está em negrito. Foi colocada assim aqui para destacar algo que um franchisador nunca pode confundir:

UM FRANCHISADO NÃO É UM EMPREGADO.

A ideia que passa é de uma marca mais preocupada em obter franchisados a qualquer custo do que clientes finais.
  • Uma análise de cinco minutos deixa claro que mesmo em Espanha a marca não está bem estabelecida, possuindo pouco mais que dez estabelecimentos. É no mínimo estranho que uma marca comece a internacionalizar-se sem antes haver conseguido fixar-se no país de origem.
É um caso interessante de um serviço que - pelo menos em teoria - poderia ter uma enorme procura na época actual, mas que acaba por não ser bem sucedido pela falta de um bom plano de marketing.

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