sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Imobiliário, REMAX e os Números que Realmente Interessam



A REMAX acaba de divulgar os seus resultados em número de transacções para 2011. O leitor desatento pode olhar para eles e ficar impressionado: 220 agências, 30.000 transações em 2011, 3.011 agentes.
A questão é que olhar apenas para os números em termos absolutos, infelizmente diz nada ou muito pouco.

Primeiro ponto interessante: a ficha da empresa no site bestfranchising indica que há 230 estabelecimentos. Anotícia, divulgada pelo mesmo site já indica dez a menos, 220. A ficha da empresa está errada ou não foi actualizada? Fecharam estabelecimentos recentemente? Em caso positivo, onde? Em quais cidades ou distritos? É interessante que em Portugal este tipo de informação nunca seja divulgada. Como o país não possui legislação sobre franchising, as redes fazem o possível para que esta informação não seja pública.

Em segundo lugar, importa ver rácios sobre o negócio tendo em vista os dados apresentados. O número exacto de transacções foi de 29.355. Levando-se em consideração existirem 220 agências, consegue-se uma média de 133 transacções por agência ao ano. Isso pode ainda parecer muito, mas na realidade reflecte-se em 11 transações por agência a cada mês. Indo mais a fundo: uma transação a cada dois dias.
Ao olhar por este prisma, os números já não surpreendem tanto. Ou antes, passam a surpreender pela negativa.

Para aqueles até aqui ainda não se convenceram basta apenas dividir o número de transacções (29.355), pelo número de agentes da rede (3.011). E então ver-se-á que cada agente faz menos de uma transação por mês. É certo que muitos agentes na realidade não são activos e a rotatividade destes é altíssima (todas as semanas o caderno de emprego do jornal Expresso tem anúncios à procura de agentes da REMAX e da ERA), mas os números contam uma história que claramente não é agradável.

Outros números interessantes: a quantidade de transacções referentes a arrendamentos aumentou significativamente e igualou o número de vendas. Tal notícia não é surpresa, mesmo para quem não trabalha no sector. Para quem trabalha isso significa um menor volume de facturação. Naturalmente, a venda de um imóvel representa uma facturação bastante superior a um arrendamento. E uma menor facturação não é boa notícia para ninguém.

Apesar de tudo, a marca revela que o ano passado foi o terceiro melhor de sempre em Portugal. Não é claro se esta afirmação refere-se ao volume de transacções ou de facturação. Provavelmente será de transacções, já que valor da facturação não é divulgado.

Qualquer cidadão atento sabe que conseguir crédito habitação está muito mais difícil. Os bancos não possuem liquidez, o que torna o crédito bastante mais caro e a análise de risco muito mais exigente. Daí o crescimento nos arrendamentos, também devido à nova legislação, que finalmente passou a dar segurança aos senhorios. Mas é preciso sempre sublinhar que na maior parte dos casos, o número de arrendamentos subiu porque não se consegue crédito para a compra. Este é um facto incontornável. O mercado imobiliário está em crise há mais de dois anos. O preço das casas tem caído significativamente e, apesar disso, a procura também. Este fenómeno é um paradoxo face à lei da oferta e da procura quando olhado fora de contexto. Não deixa de ser, no mínimo, interessante.

Naturalmente as redes de franchising imobiliário reorientaram o negócio para o arrendamento, não porque fosse interessante, mas por falta de alternativa. O arrendamento não é propriamente um negócio muito lucrativo para o intermediário. Por isso, a REMAX também anuncia que prevê diversificar ainda mais o negócio, apesar de não indicar quais serão os novos serviços oferecidos.

O mais provável é diversificar para a intermediação de obras. Como não tem havido compras, a intermediação de obras tem sido um tema quente no franchising português e muitas notícias têm aparecido, tanto em relação a novas redes que se dedicam a isso (Ilico, Melom) ou a redes já existentes que passam a incluir este serviço no portfólio (Decisões & Soluções).

O que impressiona é ainda não haver números sobre o assunto. Utiliza-se o argumento falacioso de que "como as pessoas não têm dinheiro para comprar, resolvem então realizar obras na casa". O único problema deste argumento é que uma coisa não implica a outra. E a verdade é que, apesar de haver muito buzz à volta do tema da reabilitação, na prática não se vê muito. Mas enfim, isso já é tema para outro post!

E já agora, conhece alguém que fez obras em casa nos últimos dois anos?

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